Falar de amor é sempre complicado. Ou curioso. Ou
impossível, diriam os mais pessimistas. Não é que eu não acredito no amor, eu
só tenho uma visão mais realista da que tinha há alguns anos; mais talhada
pelas dificuldades da vida.
Falar de amor é sempre multifacetado. De que amor estamos
falando? Entre pais e filhos, entre casais, entre amigos, entre parentes, entre
dono e bicho de estimação? A lista é longa, assim como as “espécies” de amor. E
cada uma delas é fascinante à sua própria maneira.
Não sou antropóloga, nem psicóloga, muito menos médica. Não
entendo o amor à luz de nenhuma ciência. De uma filosofia, talvez. Acato
a descrição bíblica de amor, belamente e ricamente detalhada no capítulo 13 de
1 Coríntios e que aparece intertextualizada na canção Monte Castelo, do Legião
Urbana. Mas concordo que já dei minhas pinceladas e fiz minhas próprias
intervenções mentais em tal descrição. Não que ela seja falha ou irrealística,
longe disso! Eu apenas faço isso para “adequar” mais um conceito ao meu modo de
pensar. É uma intervenção quase que automática, mas não maliciosa. Tendenciosa,
possivelmente. É como um dito popular que afirma que “sempre puxamos a sardinha
para o nosso lado”.
Eu não compreendo o amor, eis a grande verdade dos fatos.
Digo que não o compreendo em ações, não compreendo sua concretude, porque a
abstração está nas dezenas de livros, filmes e outras sortes de materiais para
“entretenimento”. O amor abstrato está lá, entre a mocinha-princesa e o
mocinho-príncipe. Mas quem vive um amor concreto sabe que essa ilusão vendida
pelo entretenimento não poderia estar mais distante da realidade. No plano da
realidade tudo é mais complicado. Em nosso inconsciente mundo dos sonhos tudo é
bem perfeito e displicentemente projetado. Pra que se preocupar com detalhes?
Os sonhos não precisam disso! Será que é por isso que vemos ano após ano os
índices de separação e divórcio aumentarem exponencialmente? Porque os então
cônjuges acham que a vida real é uma expansão de seu mundo dos sonhos?
Não os critico por pensar assim. Eu já pensei assim, e
muito. Querendo ou não, é inevitável. No caso das mulheres, a “lavagem
cerebral” começa já na infância, com os famigerados e irreais contos de fada. A
princesa presa, a princesa adormecida, a princesa “maltratada”, a princesa
vulnerável... – todas elas têm suas vidas transformadas completamente pela
figura do príncipe, esse cavalheiro em todos os aspectos que chega prometendo
felicidade eterna. E fim. O que vem depois do “felizes para sempre”? A vida
real! E é essa parte que os contos de fada não mostram (ou não contam). Essa,
você tem que viver e nem sempre a experiência é boa, pode ser traumática. Aí
começam as divisões de vidas e de bens.
Permanecer junto de alguém é uma experiência única. Momentos
vivenciados a dois são insubstituíveis. E ao mesmo tempo, é um desafio e tanto.
Trata-se de duas pessoas diferentes, com criações distintas e ideias mais ainda
que podem facilmente transformar uma vivência pacífica em um campo de batalha.
A linha é extremamente tênue. E é aí que muitas vezes entram as feridas não
cicatrizadas, aí que alguns pensam em divórcio e separação como solução viável.
É quando tudo começa a dar errado... Pessoas que se separam e contraem novo
casamento são mais felizes? Este dura mais tempo que o primeiro? Não é o que
revelam as estatísticas... Separando e juntando de novo, com uma pessoa
diferente ou com a mesma, não nos faz procurar mais “sarna para nos coçar”? Não
é mais fácil preservar o que já foi plantado? É como as árvores centenárias que
há em minha cidade: elas estão velhas, algumas estão ocas e outras até já
desabaram, mas ninguém sequer cogitou desarraigá-las para plantar novas, por
causa de seu valor histórico e sentimental. Ora, não valem pessoas mais do que
árvores?
Amor é um fardo, sem dúvida. Ele pode e deve ser suportado e
carregado por duas pessoas, se assim for acordado. Afinal, o que é o amor
mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário