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sexta-feira, 21 de março de 2014

Leve desespero

A brisa suave do vento anuncia: mais um dia começou. Levanto-me da cama de solavanco, o relógio insiste em me despertar. Dá tempo ainda para uma breve olhadela pela janela? Uma vista monumental proporcionada pela janela do terceiro andar. Parece que o dia será quente de novo, com toques suaves de vento que dispersam o calor por um pouco.

Nuvens claras. Paro, observo. A vida acontecendo lá fora. Dentro do apartamento a vida não segue tão fluida assim. Pela tela do meu celular vejo flashes da vida. A vida inerte em uma foto. A vida tentando adquirir movimento pela foto postada na rede social. A vida adquirindo alguma relevância e notoriedade pela popularidade alcançada, pelos "curtir" que recebe.

A vida continua lá fora. Aqui dentro eu ainda penso na vida, no seu sentido, no porquê continuar. Vale mesmo a pena viver? Lembro dos meus compromissos do dia – eis aí uma boa razão pra continuar. Tenho coisas a fazer, pessoas dependendo de mim e do que faço, pessoas desejando a minha companhia e mesmo pessoas que apenas me suportam, me encaram como mais uma pessoa na roda biológica, no curso do rio que a vida segue.

Por essas, por todas essas, vale a pena continuar e mesmo por aquelas que nem a falta sentirão, por aquelas que ainda nem me conhecem, por aquelas que me desprezam por não conhecer ou por não querer conhecer, ou por não ter tempo para conhecer. Vale sim a pena continuar. Por mais que o motivo esteja desfocado e desfigurado.

Veja, o sol já está no alto. Ele anuncia que a hora do almoço se aproxima. Uma pausa, obrigatória, nas rotinas de todos. Para alguns, a hora mais sagrada e insubstituível. Para outros, rápida pausa para buscar um lanche e voltar para o projeto que te consome há semanas e que precisa ser finalizado. Para mim, a hora de voltar para casa e me preparar para o "segundo turno" – o turno da tarde que rapidamente se aproxima.

Infelizmente o sol continua ali, bem no alto. Minha previsão matinal falhou. Achei que o dia poderia ser fresco e agradável. Não. Ele foi quente e com mormaço, deixando meus ânimos ainda mais baixos. Procuro pela minha janela, minha pequena válvula de escape diante de situações desesperadoras. Mas agora ela está longe, bem longe de onde estou. Onde estou? Perdida?

A rua me proporciona a mais bela das visões: o pôr do sol, seguido do inevitável crepúsculo que vai esmaecendo a luz solar quadro a quadro, deixando de presente a escuridão da noite. Acho que agora está próxima a hora de voltar para casa. Não cumpri absolutamente nenhum dos meus compromissos. Bem, isso já não importa mais, amanhã é um novo dia.



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