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sexta-feira, 7 de março de 2014

Do outro lado da cerca

Fico impressionada (ou seria chocada?) com certas mudanças que o estilo “vida moderna” nos impõe. Falo de mim mesma, a priori. Sou uma das centenas de milhares de pessoas que possui smartphone. E também já integrei o grupo das centenas de milhares de pessoas que vivia bem com um celular “simplesinho”. E já ofereci resistência a adquirir um aparelho mais moderno por medo de não saber usar toda a tecnologia de que ele me disporia. Até hoje não sei, pra falar a verdade. Ainda fico no básico (ligar e mandar mensagens) + bônus (funcionalidades de entretenimento como jogos ou práticas como acessar a internet). De vez em quando me pergunto se o investimento valeu a pena. Valeu?

Também me emburreço bastante nas redes sociais – gastando um tempo sobre-humano, de que não disponho, em suas plataformas e admito, interagindo bem pouco com os amigos. Mas não seria esse o objetivo de uma rede social?

Ainda fico chateada (ou chocada, novamente) sobre como as pessoas se expõem em redes sociais. Tenho uma amiga que viaja bastante e vive postando as fotos (em tempo real) de suas viagens e marcando os lugares por onde passou. Será que ela não pensa que alguém com más intenções e que a siga nessas redes pode estar olhando suas fotos, pensando e concluindo que sua casa está vazia, logo propícia para um assalto? Pior ainda, tenho um amigo que namora duas ao mesmo tempo e as marca em fotos. Será que ele não pensa que essas duas podem ter amigos em comum e que as acabe levando às fotos que ele marca das duas como “meu amor”? Alguns diriam que meus exemplos são forçados e que há formas de se proteger, como por usar recursos de moderação de privacidade. Ok, eu concordo, mas mantenho a palavra que me guia em redes sociais: cautela.

Essas “janelas para a nossa vida” virtuais, como as redes sociais poderiam ser chamadas, só me traz à mente a figura da cerca, porque ela protege o patrimônio mas não impede a visão. Nossas “cercas” modernas podem ser a geração de conteúdo pessoal nas redes: o que, quando e quanto decidimos mostrar é decisão pessoal, mas não podemos impedir quem está do outro lado da cerca de ter uma visão privilegiada de nosso principal patrimônio.

Querendo ou não, esses são os tempos em que vivemos, não há como escapar disso. A cultura de massa atual é a de que é permitido dar uma “espiadinha”. Há até pessoas que se submetem à exposição em determinados reality shows. Vivemos na era da superexposição e se não tomarmos cuidado, seremos os próximos protagonistas dessa novela. Antes, ver fotos da viagem, da festinha especial, do casamento na casa das pessoas era um ritual e um pretexto para fazermos uma visita. Hoje em dia não há esse pretexto: basta abrir a página do amigo e elas estão lá; todas as fotos que víamos na casa dele agora estão a um clique de nós. Muita comodidade e praticidade, mas pouca interação humana. Gostamos da foto, fazemos um comentário (quando muito) e só, para por aí.

Dia desses rolou uma sessão “fotos antigas” na casa da minha mãe e arrancou risadas e comentários de todos os presentes: “Olha como a fulana saiu nessa foto!”, “Puxa, como a fulana tá criança aqui!”, “Hahaha olha esse cabelo! E essas roupas!”. Tudo isso me fez lembrar de como era antigamente, na idade da pedra, numa era tão, tão distante em que não existia internet para compartilhar e propagar esses momentos, que só aconteciam em casas mesmo.

Não é que eu seja saudosista, mas às vezes (e só às vezes) eu gostaria de pegar uma máquina do tempo e me transportar de volta para essa realidade, em que as pessoas eram “desplugadas” e as conversas aconteciam mais olho no olho do que mediadas por uma tela de computador e uma conexão de internet.

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